O Tripé da Sustentabilidade na visão de John Elkington


O britânico John Elkington, é um verdadeiro ícone o mundo dos negócios, sendo frequentemente aclamado como o “pai do ESG” e o criador do conceito do “Triple Bottom Line” (TBL), traduzido como “Tripé da Sustentabilidade”. Sua influência transcende o mundo acadêmico, impactando a forma como empresas, governos e indivíduos pensam sobre responsabilidade corporativa, desenvolvimento sustentável e a urgência de um futuro mais equilibrado para o planeta.

A gênese do Tripé da Sustentabilidade

Em 1994, Elkington cunhou o termo “Triple Bottom Line” no livro “Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business”. O título “Cannibals with Forks” dignifica “Canibais com garfos: é inspirado em um poema do poeta polonês Stanislaw Lee, que questiona se é realmente progresso quando um canibal usa um garfo ‘talheres”, se referindo ao capitalismo.

A ideia central do capitalismo responsável era revolucionária: as empresas não deveriam se concentrar apenas no lucro financeiro, mas também considerar o impacto social e ambiental de suas atividades. Essa abordagem holística reconhece que a prosperidade a longo prazo depende da saúde do planeta, da equidade social e da viabilidade econômica.

O Tripé da Sustentabilidade é composto por três pilares interconectados:

Fonte: Havard School

Social (People): Este pilar engloba a responsabilidade da empresa em relação aos seus funcionários, comunidades locais, direitos humanos, diversidade, inclusão, saúde e segurança no trabalho, bem como a contribuição para o desenvolvimento social e o bem-estar da população. Uma empresa socialmente responsável se preocupa com a qualidade de vida das pessoas afetadas por suas operações e busca reduzir desigualdades.

Ambiental (Planet): Este pilar aborda a responsabilidade da empresa em minimizar seu impacto no meio ambiente. Isso envolve a gestão eficiente de recursos naturais, a redução da poluição, a mitigação das mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade e a promoção de práticas de produção e consumo sustentáveis. Uma empresa ambientalmente responsável busca reduzir sua pegada ecológica e contribuir para a preservação do planeta.

Econômico (Profit): Este pilar, embora tradicionalmente o foco principal das empresas, é reinterpretado dentro do TBL. O lucro não é mais o único objetivo, mas sim um meio para alcançar a sustentabilidade. A viabilidade econômica é essencial para garantir a continuidade da empresa e sua capacidade de investir em práticas sociais e ambientais responsáveis. Um negócio economicamente sustentável gera valor a longo prazo, considerando os impactos sociais e ambientais de suas atividades.

Elkington argumentava que as empresas que adotam o Tripé da Sustentabilidade não apenas contribuem para um futuro mais sustentável, mas também ganham vantagens competitivas, como maior reputação, atração e retenção de talentos, acesso a novos mercados e redução de riscos.

A Evolução para o ESG

O conceito do Tripé da Sustentabilidade pavimentou o caminho para o surgimento do ESG (Environmental, Social and Governance), um conjunto de padrões utilizados para avaliar o desempenho de uma empresa em relação a questões ambientais, sociais e de governança. Embora o ESG e o TBL compartilhem objetivos semelhantes, existem algumas diferenças importantes:

Foco: O TBL é um conceito mais amplo que busca integrar as dimensões social, ambiental e econômica na estratégia e nas operações da empresa. O ESG, por sua vez, é mais focado em métricas e indicadores específicos que podem ser utilizados para avaliar o desempenho da empresa em relação a cada um dos três pilares.

Mensuração: O ESG se baseia em dados quantitativos e qualitativos para medir e comparar o desempenho das empresas em relação a critérios ambientais, sociais e de governança. O TBL, embora também possa utilizar métricas, é mais flexível e permite uma abordagem mais holística e contextualizada.

Público-alvo: O ESG é amplamente utilizado por investidores, analistas financeiros e agências de rating para avaliar o risco e o potencial de retorno de investimentos. O TBL é mais direcionado a empresas que buscam integrar a sustentabilidade em sua estratégia e cultura organizacional.

Apesar das diferenças, o ESG pode ser visto como uma evolução prática do conceito do Tripé da Sustentabilidade. Ele fornece um framework mais estruturado e mensurável para que as empresas demonstrem seu compromisso com a responsabilidade social e ambiental, atraindo investimentos e construindo uma reputação positiva.

A crítica ao tripé e a retirada do conceito

Em 2018, em um artigo publicado na Harvard Business Review, Elkington expressou sua decepção com a forma como o conceito do Tripé da Sustentabilidade havia sido implementado ao longo dos anos. Ele argumentou que o TBL havia sido frequentemente reduzido a uma mera ferramenta de marketing, com empresas utilizando-o para “lavagem verde” (greenwashing) e sem realmente se comprometerem com mudanças significativas em suas práticas.

Elkington chegou a declarar que estava “retirando” o conceito do TBL, não no sentido de abandoná-lo completamente, mas sim como um chamado para que as empresas repensassem sua abordagem à sustentabilidade e se concentrassem em ações mais ambiciosas e transformadoras. Ele enfatizou a necessidade de uma mudança sistêmica, que envolva a colaboração entre empresas, governos, sociedade civil e indivíduos.

O Legado de John Elkington “Pai do ESG”

Apesar da crítica e da “retirada” do conceito, o legado de John Elkington permanece inegável. O Tripé da Sustentabilidade e o ESG se tornaram ferramentas essenciais para impulsionar a responsabilidade corporativa e o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. A conscientização sobre os impactos sociais e ambientais das atividades empresariais aumentou significativamente, e as empresas estão cada vez mais pressionadas a adotar práticas mais sustentáveis.

A influência de Elkington se estende a diversos setores, incluindo finanças, energia, alimentos, tecnologia e varejo. Ele assessorou inúmeras empresas, governos e organizações não governamentais em todo o mundo, ajudando-os a desenvolver estratégias de sustentabilidade e a implementar práticas mais responsáveis.

John Elkington, o pai do ESG e criador do Tripé da Sustentabilidade, deixou um legado duradouro que continua a moldar o mundo dos negócios e a impulsionar a busca por um futuro mais sustentável. Sua visão de um mundo onde as empresas consideram o impacto social e ambiental de suas atividades, além do lucro financeiro, é mais relevante do que nunca. Embora a jornada rumo à sustentabilidade ainda enfrente muitos desafios, o legado de Elkington nos lembra da importância de repensar nossos modelos de negócios e de trabalhar juntos para construir um futuro melhor para o planeta e para as futuras gerações. A “retirada” do conceito do TBL serve como um alerta para que não nos contentemos com soluções superficiais e para que busquemos transformações profundas e duradouras.

Desafios e oportunidades para firmar o Tripé da Sustentabilidade

A jornada rumo à sustentabilidade ainda enfrenta muitos desafios. A resistência de alguns setores, a falta de regulamentação adequada e a complexidade das questões ambientais e sociais dificultam o progresso. No entanto, as oportunidades são enormes. A crescente demanda por produtos e serviços sustentáveis, o avanço da tecnologia e a crescente conscientização da sociedade criam um ambiente favorável para a inovação e a transformação.

Para que o legado de Elkington continue a inspirar mudanças positivas, é fundamental que as empresas adotem uma abordagem mais ambiciosa e transparente à sustentabilidade. Isso envolve:

Definir metas claras e mensuráveis: As empresas devem estabelecer metas ambiciosas de redução de emissões, uso de recursos naturais e impacto social, e monitorar seu progresso de forma transparente.

Integrar a sustentabilidade na estratégia central da empresa: A sustentabilidade não deve ser vista como um adendo, mas sim como um elemento fundamental da estratégia e da cultura organizacional.

Colaborar com outras empresas, governos e sociedade civil: A colaboração é essencial para enfrentar os desafios complexos da sustentabilidade e para criar soluções inovadoras.

Engajar os stakeholders: As empresas devem dialogar com seus stakeholders, incluindo funcionários, clientes, investidores e comunidades locais, para entender suas necessidades e expectativas e para construir relações de confiança.

Inovar e investir em tecnologias sustentáveis: As empresas devem investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que reduzam seu impacto ambiental e promovam a sustentabilidade.

Bibliografia de John Elkington

ELKINGTON, John; BURKE, Tom. The Ecology of Tomorrow’s World: Industry’s Environment Agenda. [S.l.]: Associated Business Programme, 1980.

ELKINGTON, John. Sun Traps: The Renewable Energy Forecast. [S.l.]: Penguin Books, 1984.

ELKINGTON, John. The Green Capitalists: Industry’s Search for Environmental Profit. [S.l.]: Victor Gollancz, 1987.

ELKINGTON, John; KNIGHT, Peter. Towards the Sustainable Corporation: Win-Win-Win Business Strategies for Sustainable Development. [S.l.]: Earthscan Publications, 1994.

ELKINGTON, John. Canibais com Garfos: A Tripla Responsabilidade dos Negócios no Século 21. [S.l.]: Capstone Publishing, 1997.

ELKINGTON, John. A Economia Crisálida: Como CEOs Cidadãos e Corporações Podem Fundir Valores e Criação de Valor. [S.l.]: Capstone Publishing, 2001.

ELKINGTON, John; HARTIGAN, Pamela. O Poder das Pessoas Irrazoáveis: Como Empreendedores Sociais Criam Mercados Que Mudam o Mundo. [S.l.]: Harvard Business Press, 2008.

ELKINGTON, John. Green Swans: The Coming Boom in Regenerative Capitalism. [S.l.]: Fast Company Press, 2020.

ELKINGTON, John; ROBERTS, Richard; SHEIL, Malcolm. Beyond Disruption: Early-stage Insights to Accelerate Positive Business. [S.l.]: Practical Inspiration Publishing, 2023.

Ivini Ferraz é mestre em Ciências pela USP com foco em sustentabilidade. Professora de Pós-graduação na área de ESG e especialista em Comunicação Transmidiática, Jornada do Cliente e Transformação Digital.

https://www.linkedin.com/in/iviniferraz

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