Pode a Inteligência Artificial substituir os professores?

 A idéia de que a Inteligência Artificial (IA) possa substituir professores é um tema recorrente nas discussões sobre o futuro da educação. Existem opiniões controversas a esse respeito, principalmente quando abordado o fenômemo de “plataformização do ensino”. O fato é que não somente professores, mas diferentes profissões que terão que se adaptar ao novo sistema urbano-educacional no contexto da Era Digital e com certeza muitas mudanças e rupturas nos aguardam. Longe de oferecer uma resposta definitiva, o intuito deste artigo é apresentar algumas perpectivas e percepções sobre o debate e quais são os atores e fenômenos-chave para entendermos esta importante questão.

Percepção geral da ONU e dos brasileiros sobre IA na Educação e a substituição dos professores

De fato, a Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que até 2030 ao menos 20,1 milhões de postos de trabalho de professores do ensino básico ainda irão carecer de mão de obra, enquanto outros 48,6 milhões precisarão de substitutos após a aposentadoria de professores em exercício. Há controvérsia que este trabalho possa ser substituído por máquinas.

Na percepção dos geral dos brasileiros a resposta é não. Uma pesquisa da Online curriculo (STARTUP Brasileira) revelou que a maioria dos brasileiros acredita que profissões como professores e médicos não serão substituídas pela Inteligência Artificial (IA). A pesquisa da Online currículo foi realizada entre 14 e 21 de junho de 2023, com uma margem de erro de 3.7 pontos percentuais.

Existe uma percepção geral de que a realidade é que a Inteligência Artificial não pode substituir professores para as trocas humanas e a expertise dos educadores. Mais do que transmitir informações, os professores são mentores, ajudam os alunos a superarem seus desafios, a encontrar seu próprio ritmo de aprendizagem e a liberar seu potencial criativo dos alunos. Ainda que existam experimentos acontecendo em algumas universidades, professores desempenham um papel insubstituível na orientação, desenvolvimento emocional, social e acadêmico dos alunos, na criação de um ambiente escolar a acolhedores e inclusive, onde os estudantes possam se expressar e se relacionarem. 

 

 

Havard substitui professores por IA inovadora

Em 2023, uma notícia sacudiu à comunidade acadêmica. Jornais e sites de tecnologia estavam repletos de manchetes intrigantes: “Harvard substitui professores por IA inovadora”, “O futuro da educação: máquinas ensinando humanos?” Imagine o cenário: estudantes sentados em suas carteiras, olhando para o quadro-negro, mas em vez de um professor humano, uma Inteligência Artificial (IA) estava no comando. Essa IA, apelidada de “bot CS50”, assumiu o papel de “professora” no curso de codificação “Ciência da Computação 50: Introdução à Ciência da Computação”.

Por trás do experimento, o professor David J. Malan, responsável pelo curso, explicou que a IA, apelidada de “bot CS50”, ajudaria os estudantes a encontrar bugs, fornecer feedback sobre o design dos programas, explicar mensagens de erro e responder a perguntas individuais1.

A IA foi projetada para guiar os alunos até a resposta, em vez de simplesmente entregá-la, promovendo um aprendizado mais ativo. Por exemplo, ela auxilia na identificação de bugs no código dos alunos, em vez de fornecer soluções definitivas1. A tecnologia é “semelhante em espírito” ao ChatGPT e GitHub Copilot, mas adaptada às necessidades específicas do curso.

 

 

Além de Harvard, outras grandes universidades estão observando atentamente essa iniciativa, pois representa um passo significativo na integração da IA na educação superior.

No curso piloto da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST), o professor Pan Hui testa a aplicação de “professores” gerados por inteligência artificial, visando atenuar a escassez de pessoal docente globalmente. Esses professores digitais, cujos aspectos como aparência e gestos podem ser personalizados, são usados para abordar tópicos sobre tecnologias imersivas e o impacto das plataformas digitais no curso “Redes Sociais para Criativos”. Mesmo com a participação ocasional do professor Hui, os avatares podem apresentar-se em telas ou realidade virtual, aliviando o professor de tarefas mais repetitivas.

Embora a ideia de professores de IA gere tanto esperança quanto preocupação, com questões sobre plágio e a autenticidade do ensino surgindo, a experiência de HKUST mostra potenciais benefícios, como maior acessibilidade e personalização, que podem melhorar a experiência de aprendizado dos alunos. No entanto, a pesquisadora Cecilia Chan da Universidade de Hong Kong destaca que os alunos ainda preferem interações com professores reais, que podem oferecer experiência pessoal, feedback e empatia, elementos ainda ausentes nos avatares de IA.

Os pesquisadores elencam três categorias de IA na educação para oferecer suporte mais direto ao aprendizado do aluno:

1. Tutores pessoais para cada aluno, que entregam atividades de aprendizagem de acordo com as necessidades cognitivas dos alunos e que dão feedback direcionado;

2. Suporte inteligente para aprendizagem colaborativa, para apoiar a formação de grupo, a facilitação e a moderação;

3. Realidade virtual inteligente, que proporciona experiências imersivas.

 

 

“plataformização do ensino” 

Autores como Barreto (2009; 2019) defende a hipótese é que EdTech assumirá então, o protagonismo de ser a solução da vez para os problemas da educação. Para ele a “plataformização da educação” demostra uma tendência à uberização do professor, associada a precarização e esvaziamento do trabalho docente e para o fortalecimento de outros “espaços de aprendizagem”. Neste contexto, haveria a “substituição tecnológica parcial” (BARRETO, 2009) em que o professor não é exatamente retirado da cena, mas é relegado a um papel secundário.

Sobre essa questão, Freitas (2021) argumenta que cada vez mais é retirado do professor o protagonismo sobre o ato educativo transferindo-a para os artefatos tecnológicos, realizando antigas aspirações como a do psicólogo estadunidense Skinner (1972) de implementar as “máquinas de ensino”, demonstrando que esta tendência na educação é muito antiga e sempre é atualizada.

De fato existe um perigo implícito quando retiramos o protagonismo dos professores e da escola, dando demasiada enfase às plataformas como “agente de aprendizagem”.

 Ambientes de aprendizagem hiperconectados

Muitos pesquisadores, entre eles Luckin, reforçam uma tendência à Hiperconectividade com salas equipadas com tecnologias de reconhecimento de fala, gesto e outros sensores para analisar informações sobre os estudantes. Estes dados seriam utilizados para que os professores possam se dedicar a pensar em novas abordagens que atendam de maneira particular a cada aluno. Assista a palestra da profa. Luckin na íntegra!

Para estes educadores, o grande potencial da IA na educação reside em sua capacidade de refinar informações em conhecimento em tempo real, fornecendo aos alunos feedback imediato e personalizado e permitindo um ambiente de aprendizado dinâmico e hiper conectado.

A datificação, que é o processo de converter interações sociais em dados quantificáveis e codificados, constitui um dos pilares fundamentais das plataformas de mídia social e das plataformas de personalização do ensino (EdTechs). 

Os pesquisadores (DIJCK; POELL, 2018) destacam que escolas, faculdades e universidades estão cada vez mais adotando práticas baseadas em dados. A coleta desses dados permite o monitoramento detalhado de diversas métricas, como o tempo que um estudante leva para solucionar uma questão, os processos cognitivos envolvidos na resolução de problemas, a extensão do ensino necessário e a interação do aluno com o material didático. Imensos conjuntos de dados são do interesse não somente por instituições educacionais, mas também por corporações interessadas em obter informações sobre o público jovem.

Como a IA pode ser uma ferramenta valiosa para educadores

Entre os pesquisadores podemos citar o trabalho de Rose Luckin, professora da University College London (UCL) e diretora da Educate Ventures,1.  que defende a IA como uma ferramenta valiosa para os educadores, atuando como assistente de gerenciamento de tarefas, criador de lições e analista das necessidades dos alunos.

Em um artigo publicado em 2018, Luckin argumentou que a IA, se bem utilizada, poderia ser uma alternativa para suprir a demanda por educadores. Ela acredita que a IA pode auxiliar os educadores a diminuir processos burocráticos e criar ambientes de aprendizagem mais personalizados

Ao utilizar essas ferramentas de gerenciamento de tempo impulsionadas por IA, os professores podem melhorar seu desempenho e simplificar seu fluxo de trabalho, “criando” um ambiente de aprendizado mais eficiente. Com mais tempo disponível, os professores podem dedicar mais energia:

    • Ao envolvimento com os alunos;

    • À entrega de um ensino de alta qualidade;

    • À promoção de um ambiente de sala de aula produtivo e interativo.

Nesta perspectiva, as soluções tecnologias educacionais, não vem prontas e embaladas e nem são impostas e padronizadas, mas são criadas pelo educador. Nós da Players School reconhecemos Inteligências artificiais Generativas de Multimodais (IA) na sala de aula e Recursos Educacionais Abertos (disponíveis na internet) como algo que pode ter um dinamismo e um valor educacional muito relevante agora e para o futuro do trabalho de nossos alunos. Ver mais em nosso artigos sobre Multimodalidade na educação.

Segundo professor André Gazola, ao usar a IA (Inteligência Artificial) para dar conta de tarefas repetitivas, os professores podem economizar tempo, energia e recursos, liberando-os para se concentrarem em aspectos mais importantes de seu trabalho, como o aprendizado dos alunos e a instrução.

Automatizar tarefas repetitivas e trabalhosas como correção de provas, controle de presença e comunicação com os pais pode reduzir significativamente a carga de trabalho de um professor.

BENEFÍCIO DESCRIÇÃO
Economia de Tempo A IA automatiza tarefas administrativas, como organização de registros e correção de avaliações, economizando horas.
Personalização do Ensino A análise de dados permite aos professores adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos para melhor compreensão.
Comunicação Eficiente Ferramentas de IA simplificam a comunicação com alunos, pais e colegas, economizando tempo e melhorando a eficiência.
Melhor Gestão de Tempo Ferramentas de gerenciamento de tempo baseadas em IA ajudam os professores a otimizar seu tempo e alocar recursos eficazmente.
Estímulo à Criatividade A IA pode gerar ideias e perspectivas para métodos de ensino inovadores, superando bloqueios criativos.
Maior Eficiência na Sala de Aula A automatização de tarefas permite que os professores se concentrem mais no ensino e no engajamento dos alunos.
Simplificação de Recursos A IA ajuda a encontrar rapidamente materiais educacionais relevantes, economizando tempo de pesquisa manual.
T1: produzida pelo professor André Gazola
 

Professores ganhando super poderes com a Inteligência Artificial

Naturalmente, com o uso de Inteligência Artificial, muitos professores ganharão superpoderes, e os transmitirão ao ensinarem seus alunos a usar a Inteligência Artificial para resolução de problemas de sua disciplina. As IAs, ao realizarão tarefas administrativas, analisarão dados, traduzirão textos e conversarão principalmente com os professores, auxiliando-os no dia-a dia.  Sendo assim, professores terão mais foco e desempenho na observação dos alunos e pensar e para elaboração estratégias educacionais.

Nós da Players School propomos, assim, integração humanizada entre professores / máquinas e alunos, considerando a importância do envolvimento crítico com a tecnologia em ambientes educacionais conectados, zelando, principalmente, pela seguridade dos dados e pela confiabilidade dos mesmos.

A agência das Nações Unidas defende a criação de regras de proteção de dados e privacidade em vários níveis. Também é recomendado estabelecer um limite de idade de 13 anos para o uso de ferramentas de inteligência artificial em sala de aula e destaca a necessidade de oferta de programas de formação de professores sobre o tema.

“Os desenvolvedores de sistemas de inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês) devem ser responsabilizados por garantir a adesão a valores fundamentais e propósitos legais, respeitando a propriedade intelectual e mantendo práticas éticas, ao mesmo tempo, em que previnem a disseminação de desinformação e discursos de ódio”, segundo a Unesco.

ChatGPT, 3,5 Copilot, Gemini permitem habilitar níveis de proteção e coleta de dados, mas muitas vezes produtos SaS de EdTechs não. Envolver a IA como uma ferramenta interativa durante as aulas, pode ser uma boa pedida para aprimorar a aprendizagem, se alunos e professores forem ensinados a proteger seus dados, e analisar discursos e conteúdos de forma crítica, questionando sempre a veracidade das informações geradas por IA.

Em um mundo pós-pandêmico e incerto, repleto de violações cibernéticas, onde os jovens estão cada vez mais ansiosos diante de um presente VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity), habilidades de pensamento crítico e socioemocionais tornam-se essenciais.

Neste contexto, os alunos do ensino médio e universitário, devem se aventurar em domínios mais profundos dos recursos tecnológicos, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas que os servirão em uma multiplicidade de campos. Para alcançar isso, é necessário adotar uma abordagem de aprendizado híbrido, que combina ferramentas de IA com experiências práticas e cria um ambiente de aprendizado envolvente, seguro, dinâmico e humanizado.

Professores que agem como máquinas, sem se conectar ou se preocupar com os problemas e potenciais dos alunos, tornar-se-ão cada vez mais obsoletos, enquanto professores capazes de nutrir, inspirar e compreender seus alunos em um nível transpessoal serão insubstituíveis. 

Nós da Players School acreditamos que a Inteligência Artificial pode ser muito útil ao professor atuando como “assistente virtual de ensino”. A ação educativa, a escolha e a iniciativa deve continuas nas mãos e sob o protagonismo dos educadores. Por isso mesmo deve ser criada uma percepção do valor sobre de cada tecnologia, inclusive aquelas não digitalizadas.

Sugestão de atividades usando IA com alunos do ensino fundamental ou médio

Grave sua aula e após transcrever o áudio em texto, envie-os aos alunos e peça para os seus alunos submeteram a análise da IA formulando 3 prompts.

Peça para eles revisarem criticamente as respostas geradas pela IA. Sugerindo que os alunos não aceitem passivamente as informações, mas sim se envolvam ativamente, reescrevendo-os com suas própria linguagem e sugestões.

Tais atividades preparam os alunos para navegar em um mundo onde a tecnologia é onipresente, ensinando-os a não serem gerindo apenas consumidores de informações, mas também críticos reflexivos e usuários informados.

A IA pode fortalecer a interatividade do aluno com o conteúdo gerado pelo professor e fornecendo ferramentas que permitem aos professores focar no que fazem de melhor, ensinar, mediar, orientar e formar seres humanos mais criativos, críticos, sempre prontos a expressarem seu ponto de vista.

A IA não substituirá as qualidades humanas insubstituíveis que os professores trazem para a sala de aula. Em vez disso, servirá como um catalisador para transformar a educação, capacitando os professores a oferecer instruções mais personalizadas, envolventes e eficazes, enquanto fomenta as habilidades de pensamento crítico dos alunos — preparando-os para o mundo complexo e rico em informações que herdarão.

Considerações finais

A AI tem muito mais potencial para auxiliar do que substituir professores, servindo-lhe como assistente virtual. E não vice-versa, o professor ser um mero assistente de grandes plataformas de controle de dados.

Num mundo pós pandêmico, incerto e VUCA, o pensamento crítico, a contextualização e as habilidades socioemocionais tornam essenciais. 

IAs podem auxiliar os professores a ter mais tempo para concentrar-se nestas habilidades, ajudando uma nova geração a desenvolverem as habilidades necessárias para de adaptarem as grandes mudanças da Era digital, a encontrar um espaço no mercado de trabalho, extremamente competitivo. 

Vale ressaltar, que ainda que as IAs ofereçam a oportunidade de  personalização, adaptando-se aos estilos de aprendizagem dos alunos e fornecendo feedback imediato, não poderão replicar a observação e a conexão professor/aluno, a empatia e a amizade que muitas vezes surge entre eles.

Conheça o “Programa IA para Escolas” da Players School para formação de educadores e gestores escolares em Inteligência Artificial:

Conheça o “Programa IA para Escolas “ da Players School para formação de educadores e gestores escolares em Inteligência Artificial:

    1. Palestra “Aquecimento IA”

    1. Curso Letramento IA para professores

    1. Mentoria IA na Gestão Escolar

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