Com o aumento do tempo que as crianças passam em frente às telas de dispositivos eletrônicos, a escola tem um papel fundamental de educar pais e alunos sobre os perigos da exposição precoce. Isso porque, além de promover o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos alunos, a modalidade de ensino integral oferece atividades que incentivam a socialização, a criatividade, a imaginação e a experimentação, características fundamentais para a formação da criança.
Ao oferecer atividades extracurriculares e projetos que vão além do currículo tradicional, a escola integral na Educação Infantil pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas, trabalho em equipe e comunicação, além de estimular a curiosidade e o interesse pelo aprendizado.
Assim, o ensino integral pode ser uma forma de equilibrar o tempo que as crianças passam em frente às telas com atividades que estimulem seu desenvolvimento integral, promovendo um equilíbrio saudável entre o mundo digital e o mundo real. Com o avanço das tecnologia e das telas, o ensino integral tem se tornado muito importante para crianças nesta faixa etária. Existem diversas pesquisas e estudos que abordam os efeitos do uso excessivo de telas no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Alguns exemplos de fontes confiáveis que realizaram esses estudos são:
- American Academy of Pediatrics (AAP): organização americana que recomenda limites de tempo de tela para crianças de diferentes idades. Em um de seus estudos, a AAP apontou que o uso excessivo de telas pode levar a problemas de sono, obesidade, comportamento agressivo e dificuldades de aprendizado.
- Harvard University: em um estudo recente, a Harvard apontou que o uso de telas durante o período pré-escolar pode levar a atrasos no desenvolvimento da linguagem e habilidades sociais e emocionais.
- University College London: uma pesquisa realizada pela Universidade College London mostrou que o uso de telas por mais de duas horas por dia pode prejudicar a capacidade de aprendizado das crianças.
Essas são apenas algumas das fontes de pesquisa que abordam os efeitos do uso excessivo de telas no desenvolvimento infantil. É importante ressaltar que é necessário ter cautela ao interpretar os resultados desses estudos, já que cada criança é única e pode reagir de maneiras diferentes ao uso de telas.
Para quem quer entender um perspectiva neurocientífica, Michel Desmurget é o pesquisador francês conhecido por seus estudos sobre os efeitos das telas no desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças e adolescentes. Sua obra mais notável, “A Fábrica de Cretinos Digitais” (2019), discute como a exposição excessiva as telas pode prejudicar a capacidade intelectual e cognitiva das novas gerações. Desmurget argumenta que, devido ao tempo desproporcional gasto com dispositivos digitais desde tenra idade, as crianças estão desenvolvendo um QI inferior ao dos seus pais, representando um retrocesso evolutivo.
Pesquisas sobre o uso excessivo de telas no Brasil
Aqui no Brasil, a Universidades de São Paulo através do Laboratório de Psicologia Genética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP). O estudo, intitulado “Screen time and executive functioning in preschoolers: differential association with time, content, and parent-child interactions”, foi publicado na revista científica “Child Development” em 2019.
O objetivo da pesquisa foi investigar a relação entre o tempo de exposição das crianças a telas (como televisão, tablets e smartphones) e seu desempenho em tarefas que avaliam funções executivas, como a memória de trabalho, o controle inibitório e a flexibilidade cognitiva.
Foram avaliadas 552 crianças com idades entre 4 e 6 anos, que foram submetidas a testes neuropsicológicos e questionários respondidos pelos pais. A pesquisa mostrou que o tempo de exposição a telas estava relacionado a um desempenho mais pobre em tarefas que avaliam funções executivas. O conteúdo dos programas assistidos também teve impacto, sendo que programas educativos tiveram um efeito positivo e programas de entretenimento tiveram um efeito negativo.
Todas estas pesquisas contribuem para o debate sobre o uso de telas na infância e seus possíveis efeitos sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças. Os resultados sugerem que é importante monitorar o tempo e o conteúdo da exposição das crianças a telas, e que programas educativos podem ser uma alternativa mais saudável para a promoção do desenvolvimento cognitivo e das funções executivas na infância.
Outro estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo fornece evidências emergentes sobre as implicações do uso excessivo de dispositivos digitais entre crianças e adolescentes. De acordo com os resultados obtidos, há uma correlação significativa entre o tempo prolongado de exposição às telas e o surgimento de transtornos mentais, incluindo depressão e ansiedade nesta população. Este achado reforça a literatura existente sobre os impactos psicológicos negativos associados ao consumo intensivo de tecnologias digitais por jovens. A pesquisa destaca a necessidade urgente de desenvolver estratégias regulatórias e educativas que possam moderar o uso de telas entre os jovens, visando preservar e promover o bem-estar psicológico. Este estudo contribui significativamente para o diálogo acadêmico sobre as consequências da digitalização da infância e adolescência, oferecendo insights valiosos para a formulação de políticas públicas e intervenções baseadas em evidências no contexto brasileiro.
Moderação do uso de Telas e o ensino integral
Atento a estas questões do mundo digital e a necessidade de manter as crianças mais novas na escola por mais tempo, tramita desde 2022 o Projeto de Lei 399/2019, em tramitação na Câmara Municipal de São Paulo, que propõe a implementação de um programa de educação integral para crianças de 0 a 6 anos de idade. O projeto já passou por duas audiências públicas e tem como objetivo garantir que as crianças recebam uma formação mais ampla, com atividades extracurriculares, acompanhamento pedagógico e nutricional, entre outras iniciativas. O artigo em questão trata de um projeto de lei que propõe a implementação de educação integral para crianças na primeira infância na cidade de São Paulo. Entre os argumentos apresentados em defesa do projeto, destacam-se:
- Importância da primeira infância: a educação integral nesta fase é vista como essencial para o desenvolvimento pleno das crianças, uma vez que é nessa fase que se estabelecem as bases do desenvolvimento cognitivo, social e emocional.
- Desenvolvimento integral: a educação integral visa atender não só as necessidades educacionais das crianças, mas também suas necessidades de saúde, nutrição e lazer, contribuindo para um desenvolvimento integral e saudável.
- Democratização do acesso: a implementação da educação integral para crianças na primeira infância em escolas públicas contribuiria para a democratização do acesso a serviços de qualidade, reduzindo as desigualdades educacionais e sociais.
- Fortalecimento da rede escolar: a implementação da educação integral exigiria o fortalecimento da rede escolar, com a criação de novas vagas, a formação de profissionais capacitados e a melhoria da infraestrutura escolar.
- Impacto social: a educação integral para crianças na primeira infância tem o potencial de impactar positivamente a sociedade como um todo, contribuindo para a formação de cidadãos críticos, conscientes e preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Em âmbito federal, O Projeto de Lei que cria o Programa Escola em Tempo Integral foi aprovado pela Câmara dos Deputados, com o objetivo de ampliar a oferta de tempo integral nas escolas de educação básica em todo o país. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a meta é alcançar, até o ano de 2026, cerca de 3,2 milhões de matrículas nessa modalidade. Além disso, o PL também visa fomentar a conectividade nas escolas1.
Para atingir essa meta, estão previstos incentivos de R$2 bilhões aos estados e municípios nos anos de 2023 e 2024. O projeto segue para tramitação no Senado e, se aprovado, os recursos serão transferidos por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O MEC planeja investir até R$4 bilhões para aumentar ainda mais o número de matrículas em tempo integral até 20261.
O programa foi idealizado pelo MEC para viabilizar uma política de pactuação, visando alcançar a meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE). Essa meta estabelece a oferta de educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, atendendo pelo menos 25% dos alunos da educação básica. No entanto, o Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022 revela que o percentual de matrículas em tempo integral na rede pública brasileira caiu de 17,6% em 2014 para 15,1% em 20211.
Nas escolas de Educação Infantil: Mais brincadeiras, menos telas
A particular Escola Tarsila do Amaral, uma das clientes da Players. School, abraça a importância do mundo digital, mas com uma abordagem equilibrada. Durante o período de férias, a instituição oferece uma variedade de atividades recreativas e educativas que estimulam a criatividade e o aprendizado ativo, permitindo que as crianças explorem diferentes áreas do conhecimento. Ao mesmo tempo, a escola restringe o uso de dispositivos eletrônicos, incentivando o contato com a natureza, o convívio social e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Um dos pilares da abordagem da escola é a valorização do brincar como uma forma de aprendizado. Tanto durante o período de aula como durante as férias, as crianças deixam seus dispositivos em casa e têm a oportunidade de se envolver em diversas brincadeiras e atividades lúdicas, que estimulam a imaginação, a cooperação e a resolução de problemas.
As brincadeiras ao ar livre, em contato com a natureza, são especialmente incentivadas, proporcionando um ambiente propício para a exploração e o desenvolvimento das habilidades motoras.
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